XLI
E a partir desse momento surgiu um problema absurdo: "Como pôde Deus permiti-lo?" Para o qual a perturbada lógica da pequena comunidade formulou uma resposta assustadoramente absurda: Deus deu seu filho em sacrifício para a remissão dos pecados. De uma só vez acabaram com o Evangelho! O sacrifício pelos pecados, e em sua forma mais obnóxia e bárbara: o sacrifício do inocente pelo pecado dos culpados! Que paganismo apavorante! O próprio Jesus havia suprimido o conceito de "culpa", negava a existência de um abismo entre Deus e o homem; ele viveu essa unidade entre Deus e o homem, que era precisamente a sua "boa-nova"... E não como um privilégio! Desde então o tipo do Salvador foi sendo corrompido, pouco a pouco, pela doutrina do julgamento e da segunda vinda, a doutrina da morte como sacrifício, a doutrina da ressurreição, através da qual toda a noção de "bem-aventurança", a inteira e única realidade dos Evangelhos é escamoteada em favor de um estado existencial pós-morte!... Paulo, com aquela insolência rabínica que permeia todos seus atos, deu um caráter lógico a essa concepção indecente deste modo: "Se Cristo não ressuscitou de entre os mortos, então é vã toda a nossa fé" E de súbito converteu-se o Evangelho na mais desprezível e irrealizável das promessas, a petulante doutrina da imortalidade do indivíduo... E Paulo a pregava como uma recompensa!...