tag:blogger.com,1999:blog-41643597565950257122024-02-20T05:43:55.775-03:00Friederich NietzscheFRASES E PENSAMENTOS DE FRIEDERICH NIETZSCHE, BIOGRAFIA, FILOSOFIA, SER HUMANO, AMOR, DEUUnknownnoreply@blogger.comBlogger79125tag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-67614102226752939852009-02-02T21:34:00.004-02:002009-02-02T21:35:08.173-02:00O AnticristoO Anticristo<br /><br />Prefácio<br /><br /> Este livro pertence aos homens mais raros. Talvez nenhum deles sequer esteja vivo. É possível que se encontrem entre aqueles que compreendem o meu "Zaratustra": como eu poderia misturar-me àqueles aos quais se presta ouvidos atualmente? Somente os dias vindouros me pertencem. Alguns homens nascem póstumos.<br /><br /> As condições sob as quais sou compreendido, sob as quais sou necessariamente compreendido conheço-as muito bem. Para suportar minha seriedade, minha paixão, é necessário possuir uma integridade intelectual levada aos limites extremos. Estar acostumado a viver no cimo das montanhas e ver a imundície política e o nacionalismo abaixo de si. Ter se tornado indiferente; nunca perguntar se a verdade será útil ou prejudicial... Possuir uma inclinação nascida da força para questões que ninguém possui coragem de enfrentar; ousadia para o proibido; predestinação para o labirinto. Uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas. E um desejo de economia em grande estilo acumular sua força, seu entusiasmo... Auto-reverência, amor-próprio, absoluta liberdade para consigo...<br /><br /> Muito bem! Apenas esses são meus leitores, meus verdadeiros leitores, meus leitores predestinados: que importância tem o resto? O resto é somente a humanidade. É preciso tornar-se superior à humanidade em poder, em grandeza de alma em desprezo...<br /><br />Friedrich Nietzsche<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-33060627138844911912009-02-02T21:34:00.003-02:002009-02-02T21:34:52.855-02:00O Anticristo - II<br /><br /> Olhemos-nos face a face. Somos hiperbóreos sabemos muito bem quão remota é nossa morada. "Nem por terra nem por mar encontrarás o caminho aos hiperbóreos": mesmo Píndaro, em seus dias, sabia tanto sobre nós. Além do Norte, além do gelo, além da morte nossa vida, nossa felicidade... Nós descobrimos essa felicidade; nós conhecemos o caminho; retiramos essa sabedoria dos milhares de anos no labirinto. Quem mais a descobriu? O homem moderno? "Eu não conheço nem a saída nem a entrada; sou tudo aquilo que não sabe nem sair nem entrar" assim suspira o homem moderno... Esse é o tipo de modernidade que nos adoeceu a paz indolente, o compromisso covarde, toda a virtuosa sujidade do moderno Sim e Não. Essa tolerância e largeur(grandeza) de coração que tudo "perdoa" porque tudo "compreende" é um siroco para nós. Antes viver no meio do gelo que entre virtudes modernas e outros ventos do sul!... Fomos bastante corajosos; não poupamos a nós mesmos nem os outros; mas levamos um longo tempo para descobrir aonde direcionar nossa coragem. Tornamo-nos tristes; nos chamaram de fatalistas. Nosso destino ele era a plenitude, a tensão, o acumular de forças. Tínhamos sede de relâmpagos e grandes feitos; mantivemo-nos o mais longe possível da felicidade dos fracos, da "resignação"... Nosso ar era tempestuoso; nossa própria natureza tornou-se sombria pois ainda não havíamos encontrado o caminho. A fórmula de nossa felicidade: um Sim, um Não, uma linha reta, uma meta...<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-18701760701640916722009-02-02T21:34:00.001-02:002009-02-02T21:34:35.280-02:00O Anticristo - IIII<br /><br /> O que é bom? Tudo que aumenta, no homem, a sensação de poder, a vontade de poder, o próprio poder.<br /><br /> O que é mau? Tudo que se origina da fraqueza.<br /><br /> O que é felicidade? A sensação de que o poder aumenta de que uma resistência foi superada.<br /><br /> Não o contentamento, mas mais poder; não a paz a qualquer custo, mas a guerra; não a virtude, mas a eficiência (virtude no sentido da Renascença, virtu, virtude desvinculada de moralismos).<br /><br /> Os fracos e os malogrados devem perecer: primeiro princípio de nossa caridade. E realmente deve-se ajudá-los nisso.<br /><br /> O que é mais nocivo que qualquer vício? A compaixão posta em prática em nome dos malogrados e dos fracos o cristianismo...<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-33683948296646046072009-02-02T21:33:00.001-02:002009-02-02T21:33:58.531-02:00O Anticristo - IIIIII<br /><br /> O problema que aqui apresento não consiste em rediscutir o lugar humanidade na escala dos seres viventes ( o homem é um fim ): mas que tipo de homem deve ser criado, que tipo deve ser pretendido como sendo o mais valioso, o mais digno de viver, a garantia mais segura do futuro.<br /><br /> Este tipo mais valioso já existiu bastantes vezes no passado: mas sempre como um afortunado acidente, como uma exceção, nunca como algo deliberadamente desejado. Com muita freqüência esse foi precisamente o tipo mais temido; até ao presente foi considerado praticamente o terror dos terrores; e devido a esse terror, o tipo contrário foi desejado, cultivado e atingido: o animal doméstico, o animal de rebanho, a doentia besta humana: o cristão...<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-653875922911189692009-02-02T21:32:00.002-02:002009-02-02T21:33:15.091-02:00O Anticristo - IVIV<br /><br /> Pelo que aqui se entende como progresso, a humanidade certamente não representa uma evolução em direção a algo melhor, mais forte ou mais elevado. Este "progresso" é apenas uma idéia moderna, ou seja, uma idéia falsa. O Europeu de hoje, em sua essência, possui muito menos valor que o Europeu da Renascença; o processo da evolução não significa necessariamente elevação, melhora, fortalecimento.<br /><br /> É bem verdade que ela tem sucesso em casos isolados e individuais em várias partes da Terra e sob as mais variadas culturas, e nesses casos certamente se manifesta um tipo superior; um tipo que, comparado ao resto da humanidade, parece uma espécie de super-homem. Tais golpes de sorte sempre foram possíveis e, talvez, sempre serão. Até mesmo raças inteiras, tribos e nações podem ocasionalmente representar tais ditosos acidentes.<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-63214250382134706232009-02-02T21:32:00.001-02:002009-02-02T21:32:37.046-02:00O Anticristo - VV<br /><br /> Não devemos enfeitar nem embelezar o cristianismo: ele travou uma guerra de morte contra este tipo de homem superior, anatematizou todos os instintos mais profundos desse tipo, destilou seus conceitos de mal e de maldade personificada a partir desses instintos o homem forte como um réprobo, como "degredado entre os homens". O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, baixo e fracassado; forjou seu ideal a partir da oposição a todos os instintos de preservação da vida saudável; corrompeu até mesmo as faculdades daquelas naturezas intelectualmente mais vigorosas, ensinando que os valores intelectuais elevados são apenas pecados, descaminhos, tentações. O exemplo mais lamentável: o corrompimento de Pascal, o qual acreditava que seu intelecto havia sido destruído pelo pecado original, quando na verdade tinha sido destruído pelo cristianismo! <div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-75166319970326036242009-02-02T21:30:00.001-02:002009-02-02T21:32:05.959-02:00O Anticristo - VIVI<br /><br /> Um doloroso e trágico espetáculo surge diante de mim: retirei a cortina da corrupção do homem. Essa palavra, em minha boca, é isenta de pelo menos uma suspeita: a de que envolve uma acusação moral contra a humanidade. A entendo e desejo enfatizar novamente livre de qualquer valor moral: e isso é tão verdade que a corrupção de que falo é mais aparente para mim precisamente onde esteve, até agora, a maior parte da aspiração à "virtude" e à "divindade". Como se presume, entendo essa corrupção no sentido de decadência: meu argumento é que todos os valores nos quais a humanidade apóia seus anseios mais sublimes são valores de decadência.<br /><br /> Denomino corrompido um animal, uma espécie, um indivíduo, quando perde seus instintos, quando escolhe, quando prefere o que lhe é nocivo. Uma história dos "sentimentos elevados", dos "ideais da humanidade" e é possível que tenha de escrevê-la praticamente explicaria por que o homem é tão degenerado. A própria vida apresenta-se a mim como um instinto para o crescimento, para a sobrevivência, para a acumulação de forças, para o poder: sempre que falta a vontade de poder ocorre o desastre. Afirmo que todos os valores mais elevados da humanidade carecem dessa vontade que os valores de decadência, de niilismo, agora prevalecem sob os mais sagrados nomes.<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-3358539767406187912009-02-02T21:30:00.000-02:002009-02-02T21:31:04.830-02:00O Anticristo - VIVI<br /><br /> Um doloroso e trágico espetáculo surge diante de mim: retirei a cortina da corrupção do homem. Essa palavra, em minha boca, é isenta de pelo menos uma suspeita: a de que envolve uma acusação moral contra a humanidade. A entendo e desejo enfatizar novamente livre de qualquer valor moral: e isso é tão verdade que a corrupção de que falo é mais aparente para mim precisamente onde esteve, até agora, a maior parte da aspiração à "virtude" e à "divindade". Como se presume, entendo essa corrupção no sentido de decadência: meu argumento é que todos os valores nos quais a humanidade apóia seus anseios mais sublimes são valores de decadência.<br /><br /> Denomino corrompido um animal, uma espécie, um indivíduo, quando perde seus instintos, quando escolhe, quando prefere o que lhe é nocivo. Uma história dos "sentimentos elevados", dos "ideais da humanidade" e é possível que tenha de escrevê-la praticamente explicaria por que o homem é tão degenerado. A própria vida apresenta-se a mim como um instinto para o crescimento, para a sobrevivência, para a acumulação de forças, para o poder: sempre que falta a vontade de poder ocorre o desastre. Afirmo que todos os valores mais elevados da humanidade carecem dessa vontade que os valores de decadência, de niilismo, agora prevalecem sob os mais sagrados nomes.<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-22716852719596857222009-02-02T21:29:00.002-02:002009-02-02T21:30:12.695-02:00O Anticristo - VIIVII<br /><br /> Chama-se cristianismo a religião da compaixão. A compaixão está em oposição a todas as paixões tônicas que aumentam a intensidade do sentimento vital: tem ação depressora. O homem perde poder quando se compadece. Através da perda de força causada pela compaixão o sofrimento acaba por multiplicar-se. O sofrimento torna-se contagioso através da compaixão; sob certas circunstancias pode levar a um total sacrifício da vida e da energia vital uma perda totalmente desproporcional à magnitude da causa ( o caso da morte de Nazareno). Essa é uma primeira perspectiva; há, entretanto, outra mais importante. Medindo os efeitos da compaixão através da intensidade das reações que produz, sua periculosidade à vida mostra-se sob uma luz muito mais clara. A compaixão contraria inteiramente lei da evolução, que é a lei da seleção natural. Preserva tudo que está maduro para perecer; luta em prol dos desterrados e condenados da vida; e mantendo vivos malogrados de todos os tipos, dá à própria vida um aspecto sombrio e dúbio. A humanidade ousou denominar a compaixão uma virtude ( em todo sistema de moral superior ela aparece como uma fraqueza ); indo mais adiante, chamaram-na a virtude, a origem e fundamento de todas as outras virtudes mas sempre mantenhamos em mente que esse era o ponto de vista de uma filosofia niilista, em cujo escudo há a inscrição negação da vida. Schopenhauer estava certo nisto: através a compaixão a vida é negada, e tornada digna de negação a compaixão é uma técnica de niilismo. Permita-me repeti-lo: esse instinto depressor e contagioso opõe-se a todos os instintos que se empenham na preservação e aperfeiçoamento da vida: no papel de defensor dos miseráveis, é um agente primário na promoção da decadência compaixão persuade à extinção... É claro, ninguém diz "extinção": dizem "o outro mundo", "Deus", "a verdadeira vida", Nirvana, salvação, bem-aventurança... Essa inocente retórica do reino da idiossincrasia moral-religiosa mostra-se muito menos inocente quando se percebe a tendência que oculta sob palavras sublimes: a tendência à destruição da vida. Schopenhauer era hostil à vida: esse foi o porquê de a compaixão, para ele, ser uma virtude... Aristóteles, como todos sabem, via na compaixão um estado mental mórbido e perigoso, cujo remédio era um purgativo ocasional: considerava a tragédia como sendo esse purgativo. O instinto vital deveria nos incitar a buscar meios de alfinetar quaisquer acúmulos patológicos e perigosos de compaixão, como os presentes no caso de Schopenhauer (e também, lamentavelmente, em toda a nossa décadence literária, de St. Petersburgo a Paris, de Tolstoi a Wagner), para que ele estoure e se dissipe... Nada é mais insalubre, em toda nossa insalubre modernidade, que a compaixão cristã. Sermos os médicos aqui, sermos impiedosos aqui, manejarmos a faca aqui tudo isso é o nosso serviço, é o nosso tipo de humanidade, é isso que nos torna filósofos, nós, hiperbóreos! <div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-11534007541492539752009-02-02T21:29:00.001-02:002009-02-02T21:29:41.760-02:00O Anticristo - VIIIVIII<br /><br /> É necessário dizer quem consideramos nossos adversários: os teólogos e tudo que tem sangue teológico correndo em suas veias essa é toda a nossa filosofia... É necessário ter visto essa ameaça de perto, melhor ainda, é preciso tê-la vivido e quase sucumbido por ela, para compreender que isso não é qualquer brincadeira ( o alegado livre-pensamento de nossos naturalistas e fisiologistas me parece uma brincadeira não possuem a paixão nessas coisas; não sofreram ). Este envenenamento vai muito mais longe do que a maioria imagina: encontro o arrogante hábito de teólogo entre todos aqueles que se consideram "idealistas", entre todos que, em virtude uma origem superior, reivindicam o direito de se colocarem acima da realidade, e olhá-la com suspeita... O idealista, assim como o eclesiástico, carrega todos os grandes conceitos em sua mão ( e não apenas em sua mão!); os lança com um benevolente desprezo contra o "entendimento", os "sentidos", a "honra", o "bem viver", a "ciência"; vê tais coisas abaixo de si, como forças perniciosas e sedutoras, sobre as quais "o espírito" plana como a coisa pura em si como se a humildade, a castidade, a pobreza, em uma palavra, a santidade, não tivessem causado muito mais dano à vida que quaisquer outros horrores e vícios... O puro espírito é a pura mentira... Enquanto o padre, esse negador, caluniador e envenenador da vida por profissão for aceito como uma variedade de homem superior, não poderá haver resposta à pergunta: Que é a verdade? A verdade já foi posta de cabeça para baixo quando o advogado do nada foi confundido com o representante da verdade.<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-436816473345170222009-02-02T21:28:00.003-02:002009-02-02T21:28:56.890-02:00O Anticristo - IXIX<br /><br /> É contra este instinto teológico que guerreio: encontro vestígios dele por toda parte. Todo aquele que possui sangue teológico em suas veias é cínico e desonrado em todas as coisas. Ao pathos que se desenvolve dessa condição denomina-se fé: em outras palavras, fechar os olhos ante si mesmo de uma vez por todas para evitar o sofrimento causado pela visão de uma falsidade incurável. As pessoas constroem um conceito de moral, de virtude, de santidade a partir dessa falsa perspectiva das coisas; fundamentam a boa consciência sobre uma visão falseada; após terem-na tornado sacrossanta com os nomes "Deus", "salvação" e "eternidade" não aceitam mais que qualquer outro tipo de visão possa ter valor. Descubro este instinto teológico em todas direções: é a mais disseminada e mais subterrânea forma de falsidade que se pode encontrar na Terra. Tudo que um teólogo considera verdadeiro é necessariamente falso: aqui temos praticamente um critério da verdade. Seu profundo instinto de autopreservação não lhe permite honrar ou sequer mencionar a verdade. Onde quer que a influência dos teólogos seja sentida, há uma transmutação de valores, os conceitos de "verdadeiro" e "falso" são forçados a inverter suas posições: tudo que é mais prejudicial à vida é nomeado "verdadeiro", tudo que a exalta, a intensifica, a afirma, a justifica e a torna triunfante é nomeado "falso"... Quando teólogos, através "consciência" dos príncipes (ou dos povos ), estendem suas mãos ao poder, não há qualquer dúvida quanto a este aspecto fundamental: que o anseio pelo fim, a vontade niilista, aspira ao poder...<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-82091696370059386532009-02-02T21:28:00.001-02:002009-02-02T21:28:21.959-02:00O Anticristo - XX<br /><br /> Entre os alemães sou imediatamente compreendido quando digo que o sangue teológico é a ruína da filosofia. O pastor protestante é o avô da filosofia alemã; o protestantismo em si é o peccatum originale. Definição do protestantismo: paralisia hemiplégica do cristianismo e da razão... Precisa-se apenas pronunciar as palavras "Escola de Tübingen" para compreender o que é, no fundo, a filosofia alemã uma forma muito astuta de teologia... Os suevos são os melhores mentirosos da Alemanha; mentem com inocência... Qual o porquê de toda alegria que se estendeu pelo universo erudito da Alemanha que é formado em três quartos por filhos de pastores e professores com o aparecimento de Kant? Por que ainda ecoa na convicção alemã que com Kant houve uma mudança para melhor? O instinto teológico dos estudiosos alemães os fez enxergar nitidamente o que tinha se tornado possível novamente... Abria-se um caminho que conduzia de volta ao velho ideal; os conceitos de "mundo verdadeiro" e de moral como essência do mundo ( os dois erros mais viciosos que já existiram!) estavam, uma vez mais, graças a um ceticismo sutil e astucioso, se não demonstráveis, pelo menos irrefutáveis... A razão, o direito da razão, não vai tão longe... A realidade foi relegada a uma "aparência"; um mundo absolutamente falso o da essência foi transformado na realidade... O sucesso de Kant foi um sucesso meramente teológico; assim como Lutero ou Leibniz, ele não foi senão um empecilho à já pouco estável integridade alemã. <div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-47603519926023690972009-02-02T21:27:00.003-02:002009-02-02T21:27:50.452-02:00O Anticristo - XIXI<br /><br /> Agora uma palavra contra Kant como moralista. A virtude deve ser nossa invenção; deve surgir de nossa necessidade pessoal e em nossa defesa. Em qualquer outro caso é fonte de perigo. Tudo que não pertence à vida representa uma ameaça a ela; uma virtude nascida simplesmente do respeito ao conceito de "virtude", como Kant a desejava, é perniciosa. A "virtude", o "dever", o "bem em si", a bondade fundamentada na impessoalidade ou na noção de validez universal são todas quimeras, e nelas apenas encontra-se a expressão da decadência, o último colapso vital, o espírito chinês de Konigsberg. Exatamente o contrário é exigido pelas mais profundas leis da autopreservação e do crescimento: que cada homem crie sua própria virtude, seu próprio imperativo categórico. Uma nação se reduz a ruínas quando confunde seu dever com o conceito universal de dever. Nada conduz a um desastre mais cabal e pungente que todo dever "impessoal", todo sacrifício ao Moloch da abstração. E imaginar que ninguém pensou no imperativo categórico de Kant como algo perigoso à vida!... Somente o instinto teológico tomou-o sob sua proteção! Uma ação suscitada pelo instinto vital prova estar correta pela quantidade de prazer que gera: e ainda assim esse niilista, com suas vísceras de dogmatismo cristão, considerava o prazer como uma objeção... O que destrói um homem mais rapidamente que trabalhar, pensar e sentir sem uma necessidade interna, sem um profundo desejo pessoal, sem prazer como um mero autômato do dever? Essa é tanto uma receita para a décadence quanto para a idiotice... Kant tornou-se um idiota. E ele era contemporâneo de Goethe! Este calamitoso fiandeiro de teias de aranha foi reputado o filósofo alemão par excellence e continua a sê-lo!... Abstenho-me de dizer o que penso dos alemães... Kant não viu na Revolução Francesa a transformação do estado da forma inorgânica para a orgânica? Não perguntou a si mesmo se havia algum evento que não poderia ser explicado exceto através de uma disposição moral no homem, para que, fundamentada nisso, "a tendência da humanidade ao bem" pudesse ser explicada de uma vez por todas? Resposta de Kant: "Isso é a revolução". O instinto que engana sobre toda e qualquer coisa, o instinto como revolta contra a natureza, a decadência alemã em forma de filosofia isso é Kant!<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-76043732421007398332009-02-02T21:27:00.001-02:002009-02-02T21:27:21.608-02:00O Anticristo - XIIXII<br /><br /> Ponho à parte uns poucos céticos, os tipos decentes na história da filosofia: o resto não possui a menor noção de integridade intelectual. Comportam-se como donzelas, todos esses grandes entusiastas e prodígios consideram os "belos sentimentos" como argumentos, o "peito estufado" como o sopro de uma inspiração divina, a convicção como um critério da verdade. Ao final, com "alemã" inocência, Kant tentou dar um caráter científico a essa forma de corrupção, essa falta de consciência intelectual, chamando-a de "razão prática". Deliberadamente inventou uma variedade de razões para usar ocasionalmente quando fosse desejável não se preocupar a razão isto é, quando a moral, quando o sublime comando "tu deves" fosse ouvido. Lembrando do fato que, entre todos os povos, o filósofo não representa nada mais que o desenvolvimento dos velhos sacerdotes, essa herança sacerdotal, essa fraude contra si mesmo deixa de ser algo surpreendente. Quando um homem sente que possui uma missão divina, digamos, melhorar, salvar ou libertar a humanidade quando um homem sente uma faísca divina em seu coração e acredita ser o porta-voz de imperativos supranaturais quando tal missão o inflama, é simplesmente natural que ele coloque-se acima dos níveis de julgamento meramente racionais. Sente a si próprio como santificado por essa missão, sente que faz parte de uma ordem superior!... O que padres têm a ver com filosofia! Estão muito acima dela! E até agora os padres reinaram! Determinaram o significado dos conceitos de "verdadeiro" e "falso"!<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-58420972567206661852009-02-02T21:26:00.003-02:002009-02-02T21:26:58.147-02:00O Anticristo - XIIIXIII<br /><br /> Não subestimemos este fato: que nós mesmos, nós, espíritos livres, já somos a "transmutação de todos os valores", uma manifesta declaração de guerra e uma vitória contra todos os velhos conceitos de "verdadeiro" e "falso". As intuições mais valiosas são as mais tardiamente adquiridas; as mais valiosas de todas são aquelas que determinam os métodos. Todos os métodos, todos os princípios do espírito científico de hoje foram alvo, por milhares de anos, do mais profundo desprezo; caso um homem se interessasse por eles era excluído da sociedade das pessoas "decentes" passava por "inimigo de Deus", por zombador da verdade, por "possesso". Enquanto homem da ciência, pertencia à Chandala... Tivemos contra nós toda a patética estupidez da humanidade toda a noção que tinham do que a verdade deveria ser, de qual deveria ser a função da verdade todo o seu "tu deves" era arremessado contra nós... Nossos objetivos, nossos métodos, nossa calma, cautela, desconfiança para eles tudo isso parecia algo absolutamente indecoroso e desprezível. Olhando para trás, alguém até poderia perguntar-se, com alguma razão, se não foi, na verdade, um senso estético que manteve os homens cegos por tanto tempo: o que exigiam da verdade era uma eficiência pitoresca, e daquele em busca do conhecimento uma forte impressão sobre seus sentidos. Foi nossa modéstia que por tanto tempo lhes desceu a contragosto... Quão bem o adivinharam, esses pavões da divindade!<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-77627032218435153192009-02-02T21:26:00.001-02:002009-02-02T21:26:20.378-02:00O Anticristo - XIVXIV<br /><br /> Nós desaprendemos algo. Nos tornamos mais modestos em todos os sentidos. Não derivamos mais o homem do "espírito", do "desejo de Deus"; rebaixamos o homem a um mero animal. O consideramos o mais forte entre eles porque é o mais astuto; um dos resultados disso é sua intelectualidade. Em contrapartida, nós nos precavemos contra este conceito: de que o homem é o grande objetivo da evolução orgânica. Em verdade, pode ser qualquer coisa, menos a coroa da criação: ao lado dele estão muitos outros animais, todos em similares estágios de desenvolvimento... E mesmo quando dizemos isso, estamos exagerando, pois o homem, relativamente falando, é o mais corrompido e doentio de todos os animais, o mais perigosamente desviado de seus instintos apesar disso tudo, com certeza, continua a ser o mais interessante! No que concerne aos animais inferiores, foi Descartes quem primeiro teve a admirável ousadia de descrevê-los como uma machina; toda a nossa fisiologia é um esforço para provar a veracidade dessa doutrina. Entretanto, é ilógico colocar o homem à parte, como fez Descartes: todo o conhecimento que temos sobre o homem aponta precisamente ao que o consideramos: uma máquina. Antigamente, concedíamos ao homem, como herança de algum tipo de ser superior, o que se denominava "livre-arbítrio"; agora lhe retiramos até essa vontade, pois o termo não descreve qualquer coisa que possamos compreender. A velha palavra "vontade" agora designa apenas um tipo de resultado, uma reação individual, que se segue inevitavelmente de uma série de estímulos parcialmente discordantes e parcialmente harmoniosos a vontade não mais "age" ou "movimenta"... Antigamente pensava-se que a consciência humana, seu "espírito", era uma evidência de sua origem superior, de sua divindade. Aconselharam-no que, para que se tornasse perfeito, assim como a tartaruga, recolhesse seus sentidos em si mesmo e não tivesse mais contato com coisas terrenas, para escapar de seu "envoltório mortal" assim apenas restaria sua parte importante, o "puro espírito". Aqui também pensamos melhor sobre o assunto: para nós a consciência, ou "o espírito", aparece como um sintoma de uma relativa imperfeição do organismo, como uma experiência, um tatear, um equívoco, como uma aflição que consome força nervosa desnecessariamente nós negamos que qualquer coisa feita conscientemente possa ser feita com perfeição. O "puro espírito" é uma pura estupidez: retire o sistema nervoso e os sentidos, o chamado "envoltório mortal", e o resto é um erro de cálculo isso é tudo!...<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-52071949140899263982009-02-02T21:25:00.003-02:002009-02-02T21:25:58.708-02:00O Anticristo - XVXV<br /><br /> No cristianismo, nem a moral nem a religião têm qualquer ponto de contado com a realidade. São oferecidas causas puramente imaginárias ("Deus", "alma", "eu", "espírito", "livre arbítrio" ou mesmo o "não-livre") e efeitos puramente imaginários ("pecado", "salvação", "graça", "punição", "remissão dos pecados"). Um intercurso entre seres imaginários ("Deus", "espíritos", "almas"); uma história natural imaginária (antropocêntrica; uma negação total do conceito de causas naturais); uma psicologia imaginária (mal-entendidos sobre si, interpretações equivocadas de sentimentos gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, os estados do nervus sympathicus com a ajuda da linguagem simbólica da idiossincrasia moral-religiosa "arrependimento", "peso na consciência", "tentação do demônio", "a presença de Deus"); uma teleologia imaginária (o "reino de Deus", "o juízo final", a "vida eterna"). Esse mundo puramente fictício, com muita desvantagem, se distingue do mundo dos sonhos; o último ao menos reflete a realidade, enquanto aquele falsifica, desvaloriza e nega a realidade. Após o conceito de "natureza" ter sido usado como oposto ao conceito de "Deus", a palavra "natural" forçosamente tomou o significado de "abominável" todo esse mundo fictício tem sua origem no ódio contra o natural ( a realidade! ), é evidência de um profundo mal-estar com a efetividade... Isso explica tudo. Quem tem motivos para fugir da realidade? Quem sofre com ela. Mas sofrer com a realidade significa uma existência malograda... A preponderância do sofrimento sobre o prazer é a causa dessa moral e religião fictícias: mas tal preponderância, no entanto, também fornece a fórmula para a décadence...<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-6036170368593062912009-02-02T21:25:00.001-02:002009-02-02T21:25:37.043-02:00O Anticristo - XVIXVI<br /><br /> Uma crítica da concepção cristã de Deus conduz inevitavelmente à mesma conclusão. Uma nação que ainda acredita em si mesma possui seu próprio Deus. Nele são honradas as condições que a possibilitam sobreviver, suas virtudes projeta o prazer que possui em si mesma, seu sentimento de poder, em um ser ao qual pode agradecer por isso. Quem é rico lhe prodigaliza sua riqueza; uma nação orgulhosa precisa de um Deus ao qual pode oferecer sacrifícios... A religião, dentro desses limites, é uma forma de gratidão. O homem é grato por existir: para isso precisa de um Deus. Tal Deus precisa ser tanto capaz de beneficiar quanto de prejudicar; deve ser capaz de representar um amigo ou um inimigo é admirado tanto pelo bem quanto pelo mal que causa. Castrar esse Deus, contra toda a natureza, transformando-o em um Deus somente bondade, seria contrário à inclinação humana. A humanidade necessita igualmente de um Deus mau e de um Deus bom; não deve agradecer por sua própria existência à mera tolerância e à filantropia... Qual seria o valor de um Deus que desconhecesse o ódio, a vingança, a inveja, o desprezo, a astúcia, a violência? Que talvez nem sequer tenha experimentado os arrebatadores ardeurs da vitória e da destruição? Ninguém entenderia tal Deus: por que alguém o desejaria? Sem dúvida, quando uma nação está em declínio, quando sente que a crença em seu próprio futuro, sua esperança de liberdade estão se esvaindo, quando começa a enxergar a submissão como primeira necessidade e como medida de autopreservação, então precisa também modificar seu Deus. Ele então se torna hipócrita, tímido e recatado; aconselha a "paz na alma", a ausência de ódio, a indulgência, o "amor" aos amigos e aos inimigos. Torna-se um moralizador por excelência; infiltra-se em toda virtude privada; transforma-se no Deus de todos os homens; torna-se um cidadão privado, um cosmopolita... Noutros tempos representava um povo, a força de um povo, tudo que em suas almas havia de agressivo e sequioso de poder; agora é simplesmente o bom Deus... Na verdade não há outra alternativa para os Deuses: ou são a vontade de poder no caso de serem os Deuses de uma nação ou a inaptidão para o poder e neste caso precisam ser bons.<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-39484810469232853242009-02-02T21:22:00.000-02:002009-02-02T21:25:15.112-02:00O Anticristo - XVIIXVII<br /><br /> Onde quer que, por qualquer forma, a vontade de poder comece enfraquecer, haverá sempre um declínio fisiológico concomitante, uma décadence. A divindade dessa décadence, despida de suas virtudes e paixões masculinas, é convertida forçosamente em um Deus dos fisiologicamente degradados, dos fracos. Obviamente, eles não se denominam os fracos; denominam-se "os bons"... Nenhuma explicação é necessária para se entender em quais momentos da História a ficção dualista de um Deus bom e um Deus mau se tornou possível pela primeira vez. O mesmo instinto que leva os inferiores a reduzir seu próprio Deus à "bondade em si" também os leva a eliminar todas as qualidades do Deus daqueles que lhes são superiores; vingam-se demonizando o Deus de seus dominadores. O bom Deus, assim como o Diabo ambos são frutos da décadence. Como podemos ser tão tolerantes com o simplismo dos teólogos cristãos, aceitando sua doutrina de que a evolução do conceito de Deus a partir do "Deus de Israel", o Deus de um povo, ao Deus cristão, a essência de toda a bondade, significa um progresso? Mas até Renan o fez. Como se Renan tivesse o direito ao simplismo! O contrário, na realidade, é o que se faz ver. Quando tudo que é necessário à vida ascendente; quando tudo que é forte, corajoso, imperioso e orgulhoso foi amputado do conceito de Deus; quando se degenerou progressivamente até tornar-se uma bengala para os cansados, uma tábua de salvação aos que se afogam; quando vira o Deus dos pobres, o Deus dos pecadores, o Deus dos incapazes par excellence, e o atributo de "salvador" ou "redentor" continua como o atributo mais essencial da divindade qual é a significância de tal metamorfose? O que implica tal redução do divino? Sem dúvida, com isso o "reino de Deus" cresceu. Antigamente, tinha somente seu povo, seus "escolhidos". Mas desde então saiu perambulando, assim como seu próprio povo, a territórios estrangeiros; desistiu de acomodar-se; e finalmente passou a sentir-se em casa em qualquer lugar, esse grande cosmopolita até agora possui a "grande maioria" ao seu lado, e metade da Terra. Mas esse Deus da "grande maioria", esse democrata entre os Deuses, não se tornou um Deus pagão orgulhoso: pelo contrário, continua um judeu, continua um Deus das esquinas, um Deus de todos os recantos e gretas, de todos lugares insalubres do mundo!... Seu reino na Terra, agora, assim como sempre, é um reino do submundo, um reino subterrâneo, um reino-gueto... Ele mesmo é tão pálido, tão fraco, tão décadent... Até o mais pálido entre os pálidos é capaz de dominá-lo os senhores metafísicos, os albinos do intelecto. Esses teceram teias ao seu redor por tanto tempo que finalmente o hipnotizaram, o transformaram em aranha, em mais um metafísico. E então retornou mais uma vez ao seu velho serviço de tecer o mundo a partir de sua natureza interior sub specie Spinozae; após isso se transformou em algo cada vez mais tênue e pálido tornou-se o "ideal", o "puro espírito", o "absoluto", a "coisa em si"... O colapso de um Deus: ele converte-se na "coisa em si".<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-69713800193338048042009-02-02T01:18:00.003-02:002009-02-02T01:18:58.614-02:00O Anticristo - XVIIIXVIII<br /><br /> A concepção cristã de Deus Deus o como protetor dos doentes, o Deus que tece teias de aranha, o Deus na forma de espírito é uma das concepções mais corruptas que jamais apareceram no mundo: provavelmente representa o nível mais ínfero da declinante evolução do tipo divino. Um Deus que se degenerou em uma contradição da vida. Em vez de ser sua própria glória e eterna afirmação! Nele declara-se guerra à vida, à natureza, à vontade de viver! Deus transforma-se na fórmula para todas calúnias contra o "aqui e agora" e para cada mentira sobre "além"! Nele o nada é divinizado e a vontade do nada se faz sagrada!...<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-72471996958721465882009-02-02T01:18:00.001-02:002009-02-02T01:18:41.522-02:00O Anticristo - XIXXIX<br /><br /> O fato de as raças fortes do Norte da Europa não terem repudiado esse Deus cristão não dá qualquer crédito aos seus dotes religiosos para não mencionar seus gostos. Deveriam ter sido capazes de sobrepujar tal moribundo e decrépito produto da décadence. Uma maldição paira sobre eles porque não o repeliram; absorveram em seus instintos a enfermidade, a senilidade e a contradição e a partir de então não criaram mais nenhum Deus. Dois mil anos se passaram e nem um único Deus novo! Em vez disso, ainda existe como que por algum direito intrínseco como se fosse um ultimatum e maximum da força criadora de divindades, do creator spiritus da humanidade , esse deplorável Deus do monótono-teísmo cristão! Essa imagem híbrida da decadência, destilada do nada, da contradição e da imaginação estéril, na qual todos os instintos da décadence, todas as covardias e cansaços da alma encontram sua sanção! <div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-5972765052946762872009-02-02T01:17:00.001-02:002009-02-02T01:17:40.292-02:00O Anticristo - XXXX<br /><br /> Em minha condenação do cristianismo certamente espero não injustiçar uma religião análoga que possui um número ainda maior de seguidores: aludo ao budismo. Ambas devem ser consideradas religiões niilistas são religiões da décadence mas distinguem-se de um modo bastante notável. Pelo simples fato de poder compará-las, o crítico do Cristianismo está em débito com os estudiosos da Índia. O budismo é cem vezes mais realista que o cristianismo é parte de sua herança de vida ser capaz de encarar problemas de modo objetivo e impassível; é o produto de longos séculos de especulação filosófica. O conceito "Deus" já havia se estabelecido antes dele surgir. O budismo é a única religião genuinamente positiva que pode ser encontrada na História, e isso se aplica até mesmo à sua epistemologia (que é um fenomenalismo estrito) ele não fala sobre "a luta contra o pecado", mas, rendendo-se à realidade, diz "a luta contra o sofrimento". Diferenciando-se nitidamente do cristianismo, coloca a autodecepção que existe nos conceitos morais por detrás de si; isso significa, em minha linguagem, além do bem e do mal. Os dois fatos fisiológicos nos quais se apóia e aos quais direciona a maior parte de sua atenção são: primeiro, uma excessiva sensibilidade à sensação que se manifesta através de uma refinada suscetibilidade ao sofrimento; segundo, uma extraordinária espiritualidade, uma preocupação muito prolongada com os conceitos e com os procedimentos lógicos, sob a influência da qual o instinto de personalidade submete-se à noção de "impessoalidade" ( ambos esses estados serão familiares a alguns de meus leitores, os objetivistas, por experiência própria, assim como são para mim). Esses estados fisiológicos produzem uma depressão, e Buda tentou combatê-la através de medidas higiênicas. Prescreveu a vida ao ar livre, a vida nômade; moderação na alimentação e uma cuidadosa seleção dos alimentos; prudência em relação ao uso de intoxicantes; igual cautela em relação a quaisquer paixões que induzem comportamentos biliosos e aquecimento do sangue; finalmente, não se preocupar nem consigo nem com os outros. Encoraja idéias que produzam serenidade ou alegria e encontra meios de combater as idéias de outros tipos. Entende o bem, o estado de bondade, como algo que promove a saúde. A oração não está inclusa, e nem o asceticismo. Não há um imperativo categórico ou qualquer disciplina, mesmo dentro dos monastérios ( dos quais é sempre permitido sair ). Todas essas coisas seriam simplesmente meios para aumentar aquela excessiva sensibilidade supramencionada. Pelo mesmo motivo não advoga qualquer conflito contra os incrédulos; seus ensinamentos não antagonizam nada senão a vingança, a aversão, o ressentimento ( "inimizade nunca põe fim à inimizade": o refrão que move o budismo...) E nisso tudo estava correto, pois são precisamente essas paixões que, na perspectiva de seu principal objetivo regimental, são insalubres. A fadiga mental que apresenta, já claramente evidenciada pelo excesso de "objetividade" (isto é, a perda do interesse em si mesmo, a perda do equilíbrio e do "egoísmo"), é combatida por vigorosos esforços a fim de levar os interesses espirituais de volta ao ego. Nos ensinamentos de Buda o egoísmo é um dever. A "única coisa necessária", a questão "como posso me libertar do sofrimento", é o que rege e determina toda a dieta espiritual ( talvez alguém lembrar-se-á daquele ateniense que também declarou guerra ao "cientificismo" puro, a saber, Sócrates, que também elevou o egoísmo à condição de princípio moral).<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-76491483932010276142009-02-02T01:16:00.000-02:002009-02-02T01:17:20.999-02:00O Anticristo - XXIXXI<br /><br /> As necessidades do budismo são um clima extremamente ameno, muita gentileza e liberalidade nos costumes, e nenhum militarismo; ademais, que seu início provenha das classes mais altas e educadas. Alegria, serenidade e ausência de desejo são os objetivos principais, e eles são alcançados. O budismo não é uma religião na qual a perfeição é meramente objeto de aspiração: a perfeição é algo normal. No cristianismo os instintos dos subjugados e dos oprimidos vêm em primeiro lugar: apenas os mais rebaixados buscam a salvação através dele. Nele o passatempo prevalecente, a cura favorita para o enfado, é a discussão sobre pecados, a autocrítica, a inquisição da consciência; nele a emoção produzida pelo poder (chamada de "Deus") é insuflada (pela reza); nele o bem mais elevado é considerado algo inatingível, uma dádiva, uma "graça". Também falta transparência: o encobrimento e os lugares obscurecidos são cristãos. Nele o corpo é desprezado e a higiene é acusada de lascívia; a Igreja distancia-se até da limpeza ( a primeira providência cristã após a expulsão dos mouros foi fechar os banhos públicos, dos quais havia 270 apenas em Córdoba). Também é cristã uma certa crueldade para consigo e para com os outros; o ódio aos incrédulos; o desejo de perseguir. Idéias sombrias e inquietantes ocupam o primeiro plano; os estados mentais mais estimados, portando os nomes mais respeitáveis, são epileptiformes; a dieta é determinada com o fim de engendrar sintomas mórbidos e supra-estimulação nervosa. Também é cristã toda a inimizade mortal aos senhores da terra, aos "aristocratas" juntamente com uma rivalidade secreta contra eles ( resignam-se do "corpo" querem apenas a "alma"...). É cristão todo o ódio contra o intelecto, o orgulho, a coragem, a liberdade, a libertinagem intelectual; o ódio aos sentidos, à alegria dos sentidos, à alegria em geral, é cristão...<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-31277497996886680432009-02-02T01:12:00.000-02:002009-02-02T01:16:55.062-02:00O Anticristo - XXIIXXII<br /><br /> Quando o cristianismo abandonou sua terra natal, aqueles das classes mais baixas, o submundo da Antigüidade, e começou a buscar poder entre os povos bárbaros, não tinha mais de se relacionar com homens exauridos, mas homens ainda intimamente selvagens e capazes de sacrifícios em suma, homens fortes, mas atrofiados. Aqui, distintamente do caso dos budistas, a causa do descontentamento consigo, do sofrimento por si, não é meramente uma sensibilidade extremada e uma suscetibilidade à dor, mas, ao contrário, uma excessiva ânsia por infligir sofrimento aos outros, uma tendência a obter uma satisfação subjetiva em feitos e idéias hostis. O cristianismo tinha de adotar conceitos e valorações bárbaras para obter domínio sobre os bárbaros: assim como, por exemplo, o sacrifício do primogênito, a ingestão de sangue como um sacramento, o desprezo pelo intelecto e pela cultura; a tortura sob todas as suas formas, corporal e espiritual; toda a pompa do culto. O budismo é uma religião para pessoas em um estágio mais adiantado de desenvolvimento, para raças que se tornaram gentis, amenas e demasiado espiritualizadas ( a Europa ainda não está madura para ele ): é um convite de retorno à paz e à felicidade, a um cuidadoso racionamento do espírito, a um certo enrijecimento do corpo. O cristianismo visa dominar animais de rapina; sua estratégia consiste em torná-los doentes enfraquecer é a receita cristã para domesticar, para "civilizar". O budismo é uma religião para o final, para os derradeiros estágios de cansaço da civilização. O cristianismo surge antes da civilização mal ter começado sob certas circunstâncias cria as próprias fundações desta.<div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4164359756595025712.post-60749100942603268472009-02-02T01:10:00.000-02:002009-02-02T01:11:00.114-02:00O Anticristo - XXIIIXXIII<br /><br /> O Budismo, eu repito, é uma centena de vezes mais austero, mais honesto, mais objetivo. Não precisa mais justificar suas aflições, sua suscetibilidade ao sofrimento, interpretando essas coisas em termos de pecado simplesmente diz o que simplesmente pensa: "eu sofro". Para o bárbaro, entretanto, o sofrimento em si é pouco compreensível: o que necessita é, em primeiro lugar, uma explicação sobre o porquê de seu sofrimento (o seu instinto leva-o a negar completamente seu sofrimento, ou a suportá-lo em silêncio). Aqui a palavra "Diabo" era uma bênção: o homem devia possuir um inimigo onipotente e terrível não havia motivos para envergonhar-se por sofrer nas mãos de tal inimigo.<br /><br /> No seu íntimo o cristianismo possui várias sutilezas que pertencem ao Oriente. Em primeiro lugar, sabe que é de pouca relevância se uma coisa é verdadeira ou não, desde que se acredite que é verdadeira. Verdade e fé: aqui temos dois mundos de idéias inteiramente distintas, praticamente dois mundos diametralmente opostos os seus caminhos distam milhas um do outro. Entender esse fato a fundo isso é quase o suficiente, no Oriente, para fazer de alguém um sábio. Os brâmanes sabiam disso, Platão sabia disso, todo estudante de esoterismo sabe disso. Quando, por exemplo, um homem sente qualquer prazer através da idéia de que foi redimido do pecado, não é necessário que seja realmente pecador, mas que simplesmente sinta-se pecador. Mas quando a fé é exaltada acima de tudo, disso segue-se necessariamente o descrédito à razão, ao conhecimento e à investigação meticulosa: o caminho que leva à verdade torna-se proibido. A esperança, em suas formas mais vigorosas, é um estimulante muito mais poderoso à vida que qualquer espécie de felicidade efetiva. Para o homem resistir ao sofrimento deve possuir uma esperança tão elevada que nenhum conflito com a realidade possa destruí-la de fato, tão elevada que nenhuma conquista possa satisfazê-la: uma esperança que alcança além deste mundo (precisamente por causa do poder que a esperança tem de fazer os sofredores persistirem, os gregos a consideravam o mal entre os males, como o mais maligno de todos males; permaneceu no fundo da fonte de todo o mal). Para que o amor seja possível, Deus deve tornar-se uma pessoa; para que os instintos mais baixos tenham seu espaço, Deus precisa ser jovem. Para satisfazer o ardor das mulheres, um santo formoso deve aparecer na cena; para satisfazer o dos homens, deve haver uma virgem. Tais coisas são necessárias se o cristianismo quiser assumir controle sobre um solo no qual o culto de Afrodite ou de Adônis já tenha estabelecido a noção de como uma adoração deve ser. Insistir na castidade aumenta grandemente a veemência e a subjetividade do instinto religioso torna o culto mais fervoroso, mais entusiástico, mais espirituoso. O amor é o estado no qual o homem vê as coisas quase totalmente como não são. A força da ilusão alcança seu ápice aqui, assim como a capacidade para a suavização e para a transfiguração. Quando um homem está apaixonado sua tolerância atinge ao máximo; tolera-se qualquer coisa. O problema consistia em inventar uma religião na qual se pudesse amar: através disso o pior que a vida tem a oferecer é superado tais coisas sequer serão notadas. Tudo isso se alcança com as três virtudes cristãs: fé, esperança e caridade: as denomino as três habilidades cristãs. O budismo encontra-se em um estágio de desenvolvimento demasiado avançado, demasiado positivista para ter esse tipo de astúcia. <div class="blogger-post-footer">Friederich Nietzsche</div>Unknownnoreply@blogger.com