O Anticristo - XIII

XIII

Não subestimemos este fato: que nós mesmos, nós, espíritos livres, já somos a "transmutação de todos os valores", uma manifesta declaração de guerra e uma vitória contra todos os velhos conceitos de "verdadeiro" e "falso". As intuições mais valiosas são as mais tardiamente adquiridas; as mais valiosas de todas são aquelas que determinam os métodos. Todos os métodos, todos os princípios do espírito científico de hoje foram alvo, por milhares de anos, do mais profundo desprezo; caso um homem se interessasse por eles era excluído da sociedade das pessoas "decentes" ­ passava por "inimigo de Deus", por zombador da verdade, por "possesso". Enquanto homem da ciência, pertencia à Chandala... Tivemos contra nós toda a patética estupidez da humanidade ­ toda a noção que tinham do que a verdade deveria ser, de qual deveria ser a função da verdade ­ todo o seu "tu deves" era arremessado contra nós... Nossos objetivos, nossos métodos, nossa calma, cautela, desconfiança ­ para eles tudo isso parecia algo absolutamente indecoroso e desprezível. ­ Olhando para trás, alguém até poderia perguntar-se, com alguma razão, se não foi, na verdade, um senso estético que manteve os homens cegos por tanto tempo: o que exigiam da verdade era uma eficiência pitoresca, e daquele em busca do conhecimento uma forte impressão sobre seus sentidos. Foi nossa modéstia que por tanto tempo lhes desceu a contragosto... Quão bem o adivinharam, esses pavões da divindade!